Não há primeira vez perfeita. Sim, soa horrível ter que ler palavras assim — e, acredite, é angustiante até mesmo escrever palavras assim, mas, baseando-se na minha vida e na da maioria das pessoas, senão todas, não há uma primeira vez perfeita. Não importa o que seja. A primeira vez sempre servirá como o alicerce de um prédio. Pense comigo: no futuro, isto o sustentará, porém não constituirá todo o seu corpo, apenas fará parte. É o que é, naturalmente. Além disso é ampliação ficcional.
Para provar isto não se precisa de muito, basta retrogradar por um breve momento de sua vida e adentrar uma lembrança. Imagine, você, algo em que seja bom. Pode ser qualquer coisa! Como tocar violão; escrever; jogar vôlei; fotografar; desenhar; enfim, qualquer coisa. Tudo bem, agora que você tem algo em mente, retroceda. Sim, volte até o início, para a época em que você descobriu que podia fazer isto que faz desta maneira que o faz, atualmente. Consegue ver que suas habilidades atuais sobrepujam a sua primeira tentativa? E é claro, para tudo o que você pensar, verá isso. Por quê? Oras! Porque o mundo não para de evoluir. Há um ditado popular — ou talvez seja popular apenas para mim — que diz que todo indivíduo possui um mundo próprio em sua cabeça.
Mesmo parados, o nosso corpo, internamente, está a todo vapor. Poderá estar tirando um bom cochilo, e uma inércia plena não o atingirá. Graças a isso, por melhor que você possa começar algo, este algo não será perfeito. E não é apenas porque a perfeição não existe — ou não está ao alcance — para nós, seres humanos, mas sim porque você provavelmente evoluirá e os seus critérios mudarão. Para quem está agindo constantemente, a mudança é quase imperceptível, pois a mente humana é tão adaptativa ao ponto de interpretar cada pequena evolução como um estado natural. Você não percebe até ver o quão, mais uma vez, natural é em executar a tarefa em que se dispusera a aprender. O que causa o famoso sentimento de humildade pós-questionamento. Uma pessoa indaga a você:
— Como você pôde se tornar tão bom nisso?
E você responde:
— Sinceramente, eu não sei dizer. O que sei dizer é que não sou tão bom assim como você pensa.
Mas você é.
Ou a pessoa diz: você é talentoso.
Mas não é, porque não existe esse talento sobrenatural e paradoxal, e, sim, vários tipos de predisposições naturais e habilidades construídas sobre isso.
Acredite, fico constrangido em afirmar algo tão obvio. Porém uma coisa não consigo entender: o porquê das pessoas, mesmo sabendo desta obviedade, continuarem a desistir no início de seus sonhos, ou de seus objetivos, ou de seus projetos, ou mesmo de suas interações humanas, pois acabou não saindo do jeito que queriam. Em outras palavras: não saiu perfeito. Claro que não sairia! O cérebro sempre imagina uma situação "perfeita", ou, no mínimo, agradável — quando não a ruína completamente com projeções obscuras. Esta é a maneira que sua mente presente pensa. Entretanto sabemos que ambas situações são improváveis, principalmente a primeira. No cérebro há nebulosidade em excesso.
E, então, o que se pode concluir disso tudo? Bem, que primeiras vezes não são feitas para se concluir, mas, sim, para se começarem, como aparenta ser. Elas fazem você ter dúvidas e, às vezes, até se sentir mal. Ela mostra o que pode ser, e não o que é. E para isso você precisa de apenas um pouquinho de fé.

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