quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Os Quinhentos Lados da Moeda

zerochan

     Unificarei os sentidos da vida e por uma natural tendência serei esmagado! Ondas desta desenvoltura assolam o existir em ciclos violentos e provocam terríveis choques. Estaria sendo muito simplista em quantificar a vivência humana por apenas um ponto de vista, pois tamanha inatenção poderia apenas ser oriunda de uma cegueira ignorante e, portanto, infundamentada. Pontos extremos existem somente por serem constituídos de infinitos trajetos antecedentes. Quando proponho a pensar exclusivamente no meu pensar, abstenho-me e propositalmente ignoro todas as nuances que o mar existencial me concede. Enxergo o mundo de tal forma que o pequenino brilhar na escuridão salpicada representa todo o mundo o qual pessoas pensam e opinam, selado estritamente numa justificativa de imparidade abusiva e incoerente. Estranho pensar que, no fim das contas, precisamos nos integrar simultaneamente em oscilantes e múltiplos lados da vida para, então, obter um terço de sua compreensão? Pois quanto mais se existe, mais se nota o existir de incontáveis existências, cada uma habitando seu distinto universo. Estranho pensar que, apesar de tudo, muitos universos podem formar apenas um? E como haveria de exemplificar as coisas se, por si só, elas são excessivamente complexas e particulares?
     Por vezes, viajo na ausência de convivências apenas para atestar o quão íntimo podem ser conclusões sociais — e essa intimidade provoca-me rebuliços de enorme visceralidade! Como posso confiar em minha opinião e sabedoria se o mundo não compartilha de minhas memórias e de meus profundos conceitos? Como posso flertar olhares se aquela que me vê enxerga com os olhos distorcidos de outra realidade? Sou dois e três ao mesmo tempo? Um espelho fragmentado cujos pedaços tornaram-se demasiados conscientes de si mesmo? Sou, assim, abençoado pela infinidade de possibilidades personalísticas. Se não há nada neste mundo que seja idêntico, então teríamos de ser atraídos por similaridades! Não por leis místicas de atração, mas pela simples concentração de interesse em seres que compartilham traços análogos. Notamos aquilo que outrora crescera vagarosamente em nossas mentes. Organizamos tais informações e do uso dela atraímos e somos atraídos por equivalentes existenciais e afetivos. O problema consiste justamente na simplificação desses conjuntos. Depois de conectados, há o entendimento de que ambas partes estão num consenso irretocável; mas como se sustentaria tal aprovação sublime se o que define você é ser unicamente você? Como poderia ser perfeito para alguém quando a vida se propõe tanto a te ramificar?
     Infortúnios existirão até o voltar dos seres vivos à escuridão; entretanto, incompreensões muitas vezes são frutos de um pensamento unilateral e limitadamente organizado para com os outros viveres. Antes de falaciar o irrefutável significado da realidade, precisa-se entender os quinhentos lados da moeda. Entender o fútil e o profundo; o amor e o ódio; a sabedoria e a ignorância; o viver e o morrer; a alegria e a infelicidade; a razão e a loucura; a coragem e o medo; a esperança e o desistir; a realidade e o irreal; o instinto e a consciência. É impossível trazer com tu toda a verdade sendo ela infernalmente subjetiva! Se perderia no eterno desejo de confirmar suas pretensões e, com isso, perceberia mais milhões de anseios. Num prolongado jogo de respostas, encontrará exatamente o oposto, visto que indagações nascem da falta de soluções.
     Viveríamos num padrão que se repete de maneira diferente? Que embora conteste identidades, depende de semelhanças? E como viverei sem enamorar-me de novos pontos de vistas e casar-me com a hipocrisia?
     Tamanha admiração sinto quando cercado por uma multidão! Tantos universos! Tanto conforto ao sentir que não importa o quanto eu lute para provar o meu ponto, existirão incontáveis que, em hipótese alguma, concordarão! Imediatamente noto o quão disperso fui. O quão negligente em desprezar outros modos de vidas. Pois não existe situação em que mais alguém não possa ser arrastado para dentro. Como saberia, afinal, o lado desprezível se nunca o senti em minha carne? Em nenhuma circunstância poderia desmascarar crenças preconceituosas estando envolto de motivações individuais. A lógica pode ser facilmente manipulada quando precisares atestar sua existência. A ilusão de ser especial — não se sentir, mas descobrir no que e por que a vida luta para ser. Talvez, então, a hipocrisia não seja um aspecto indissociável do caráter humano, mas da dualidade do cérebro entre o querer do inconsciente e o dizer do consciente.
     Se há algo especial, então este é vivenciar as infindas direções da compreensão.

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