sábado, 8 de julho de 2023

O Homem Desesperado


zerochan

  O homem desesperado, tão cansado de se desesperar, roga por um fim antecipado, abrupto e bem concebido. Já exausto de sorrir para, em seguida, se abater; já demasiado turvo em se apegar, quando todas as coisas se desapegaram dele; o homem desesperado quer um encerramento para o seu desespero. Incinerar, em absoluto, qualquer grau de raiz e retroceder para o inexistente. Dessa maneira, pensa ele, tamanha dor no peito, cada pontada aguda de um coração descontrolado, deverá se tornar tranquilidade, libertação e submissão, deverá ser paz e anseio de adeus. Adeus, adeus pois não se despede da vida sem se incluir em outro espaço, não se dá adeus se não deseja ir para outro lugar. E o lugar pouco importa, se é para longe da vida. Para se despedir, o homem desesperado somente necessita não se desesperar. Só assim, então, poderá confrontar sua própria agonia e o seu desejo de morte. Se deseja morrer, então precisará desejar em todas as instâncias; se só sente quando está descontente e raivoso, tão logo esteja perto da morte, arrependê-lo-á. Assim, caso na mais profunda calma ainda encontre o intento de aniquilação, estará irreparavelmente certo e preciso de seu objetivo. Embora coincida, portanto, um estranho paradoxo para este ser: não pode se considerar desesperançoso se não circula em seu sangue, no momento em que se apaga, um sequer sentimento intenso de desconsolação. Quando acalmado, o homem desesperado é só mais um homem, como milhares de outros, que não têm nenhuma urgência de escapar do mundo de modo prematuro.

   É desta forma que a vida balanceia a si mesma. Nunca se quer totalmente morrer, ao passo de que não se almejava inteiramente viver, pois vivendo em totalidade logo se busca a integralidade da morte, e nela, se arrepende, para ansiar o retorno à vida.

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