sexta-feira, 13 de julho de 2018

A Recusa Ingrata do Idiota ou (A Incógnita Enlouquecedora dos Resultados Simultâneos)

zerochan

     A recusa ingrata do idiota é a sua maior virtude ou a mais absoluta renúncia de sua sorte? Pois para se negar o oportuno, ou se mata a razão ou a conserva para planos duvidosos na qual o prelúdio de sua ação física vagueia em projeções contraditórias, em movimentos paradoxais de avançar para trás. Haveria de ser esse indivíduo, numa análise superficial, um tolo irracional; ou, ao menos, um bem-intencionado homem que aspira sentimentos e conquistas surreais para um mundo vazio de reciprocidade. Entretanto, tamanha divergência seja, talvez a recusa seja muito mais racional e sensata do que a própria necessidade emocional de validar uma oportunidade pelo que ela parece ser, sendo que tudo é belo e promissor antes de ser banhado pela força da realidade, pelo impacto do cotidiano; e somente assim podemos mensurar o preço real de uma circunstância. Não em sua premissa ou em sua intenção, mas em sua influência na vida. Consideremos, também, que oportunidades são moldadas às perspectivas de seus convocados, e o que soa imperdível a um, é a camisa de força ao outro. Mas estaria sendo excessivamente injusto em meditar uma situação como essa apenas pelos olhos do negador, visto que, por não termos a capacidade humana de quantificar futuros, de prever acertos e erros em absoluto, qualquer recusa se submete à incerteza do equívoco e, portanto, do sofrimento. Há, sem dúvida nenhuma, a possibilidade de descartarmos um divisor de águas para com nossas vidas na fervorosa certeza de que não haveria nada senão uma chacina de tempo e energia - ou a de sermos precisos em fugir desses problemas.
     O quanto podemos medir limita-se ao jogo da lógica, da adivinhação racionalizada, e do método sufocante da zona de conforto; mas você nunca será obrigado a aceitar uma oferta, nem em urgência final. E a necessidade é substancialmente desimportante, já que temos o direito existencial de rejeitar até a mais dourada receita de riqueza - não para evitarmos a felicidade, mas por desejá-la em outros meios; não para se ter a dor, mas por tê-la. Momentos bons não necessariamente se tornam irrecusáveis por ostentarem a qualidade de serem bons, tampouco únicos e efêmeros, não podem ser classificados como necessidades se o que te preenche como indivíduo não se encontra vivo no invólucro do propósito; acha-se, na verdade, um egoísmo subjacente num amaldiçoo de arrependimento e desperdício perante o balançar do não com a cabeça, como se a recusa matasse o futuro de sua sorte, quando é adverso: abster-se de um convite não encerra a chegada dos próximos, abre-se espaço temporal e atua como desocupação para recebê-los atenciosa e integralmente. E se toda a especulação fosse, portanto, subvertida? E se aceitar não guiasse-nos para o caminho da riqueza, do preenchimento repetitivo de felicidade, mas para o buraco inescapável da perda de uma realização intimamente sua, enraizada no mais profundo e insubstituível desejo de pessoa, cuja projeção em ação poderia ter sido metamorfoseada, se não menosprezada, conduzindo-o, por conseguinte, ao mais elevado estado de espírito e conquista?
     Logo não se descavam motivos lógicos para nenhuma das opções quando se projeta destinos velozmente mutáveis, não controláveis e jocosos. A incerteza de considerá-los cria a incógnita enlouquecedora dos resultados simultâneos: acertamos errando, seja aceitando ou recusando? E tudo o que sobra deste convite maligno, que despercebidamente causa danos apenas por ter sido ofertado, são decisões de dois gumes; ferir-se no incerto delimitado pelo presente ou apunhalar-se no imprevisível do futuro. Mas o quão inocente se torna escolher. Precisa-se apenas de saber o quão inclinados estamos para uma dor específica; se gostaríamos de ser socados no estômago ou de uma vez apunhalados no coração, pois quanto maior a possibilidade de dor, mais brilhante e sorridente o caos nos corteja. O cortejo da intensidade é o nivelador de nossas necessidades - e mede mais palpavelmente a dor do que a alegria.
     Analisa-se indiferentemente um indivíduo recusador como um hipócrita para com a vida cotidiana, onde recusas são tão pecaminosas, tão terrivelmente espantosas e, por fim, o produto de uma mente alienada, incongruente e/ou intelectualmente empobrecida - ou, no fundo, farta de maldade. Porém a coragem em decisões negativas deve ser contemplada como valiosamente acima da fácil aceitação de destinos alheios, vendidos com a impetuosidade capaz de paralisar emocionalmente o descuidado. No fim, o negador será negado de sua escolha, e decidir espontaneamente remeterá à burrice e ao crime da decisão ruim. Nem mesmo a racionalização, ou a argumentação com a exposição dos fatos, servirá para enfrentar a consequência de escolher um caminho que já fora desenhado há muito mais tempo do que a própria origem da oferta, mas que estará sendo puxado patamares abaixo para equivaler ao valor do concorrente. De repente, a sua personagem é desenhada como inerentemente má, assim não terá de ter razão, e de razão nada valerá, pois eterna a maldade foi imprópria aos cultos, e pertence senão aos infelizes de sentido e validação existencial.
     Logra de liberdade o desafortunado convocado, porque dela obtém o néctar seletivo de sua decisão, não obstante apercebe para si a contingência da trilha mais dolorosa, ao saber que há muito mais deleite em falhar na estrada correta, condenado pela tragédia de seus passos, do que se perder num caminho serpentino de ouro cuja última virada conduz ao abismo penetrante e eterno da aniquilação.

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